A exposição Em 1964 – mesmo título da programação do Instituto Moreira Salles dedicada a rever ao longo de 2014 aquele ano marcante para o Brasil – propõe uma imersão a partir do ponto de vista de artistas e intelectuais cujos acervos estão sob a guarda do IMS ou que têm vínculos diretos com suas atividades.
Em apenas uma sala, aberta ao público a partir de 9 de fevereiro, o visitante poderá, por assim dizer, encontrar Baden Powell, Nara Leão, Cartola, Clarice Lispector, Otto Lara Resende, Millôr Fernandes, Glauber Rocha e alguns dos artistas que compõem o vasto acervo de fotografia do IMS, como Thomaz Farkas, Maureen Bisilliat, Otto Stupakoff, Chico Albuquerque, Alécio de Andrade, Henri Ballot e Jorge Bodanzky.
Com a ajuda dos coordenadores dos acervos do IMS, o curador Paulo Roberto Pires e a programadora visual Mariana Newlands, responsável pelo projeto expográfico, fizeram algumas escolhas ligadas à turbulenta situação política de 1964 no país. São os casos, por exemplo, de fotografias tiradas por Jorge Bodanzky em Brasília no dia do golpe militar.
Mas a sala também reúne imagens que refletem os costumes de então. Há Henri Ballot documentando feiras, supermercados e outros espaços do cotidiano. E há fotos publicitárias de Chico Albuquerque, como as de campanhas da Kombi e do Fusca. Outros destaques são um ensaio de Maureen Bisilliat sobre Iemanjá e os registros de Thomaz Farkas com a sua Caravana Farkas, que resultou em quatro filmes sobre a realidade brasileira.
Música e fotografia se misturam quando Tom Jobim aparece em foto de Otto Stupakoff. Mas há muito mais música na exposição. Uma seleção poderá ser ouvida com canções do próprio Tom e de Baden Powell, Nara Leão, Ernesto Nazareth e Radamés Gnattali. Ainda há um nicho dedicado ao Zicartola, restaurante-bar comandado por Cartola e sua mulher Zica, marco cultural daquele ano e onde surgiu, aliás, Paulinho da Viola.
Na literatura, 1964 teve a publicação de dois dos livros mais importantes de Clarice Lispector: A paixão segundo G.H. e A legião estrangeira. Embora lançado no ano anterior, O braço direito, o único romance de Otto Lara Resende, rendeu muitas discussões a partir de 1964. A exposição apresentará os originais e datiloscritos de Otto que integram os acervos dos dois escritores, ambos sob a guarda do IMS.
Duas paredes da sala são dedicadas às oito capas e quarta-capas da revista pifpaf, outro fato cultural marcante daquele ano. À frente de um time formado por Fortuna, Jaguar, Sérgio Porto, Claudius e Ziraldo, o idealizador da publicação, Millôr Fernandes, passou o ano às turras com os militares e o livro-caixa. Endividado e cansado das sucessivas apreensões da revista, decidiu encerrar a aventura. No oitavo e último número, imprimiu uma advertência: “Se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e crítica, dentro em breve estaremos caindo numa democracia”.