Nos cinemas, três filmes brasileiros, Um morto ao telefone, de Watson Macedo, O tropeiro, de Aécio de Andrade, e em especial Selva trágica, de Roberto Farias, que para Claudio Mello e Souza é um filme em que o diretor “mostra que não perdeu certas qualidades básicas já demonstradas no Assalto ao trem pagador. Não as perdeu e até as aperfeiçoou. A sua imagem é composta com rigor, com rigor talvez mesmo excessivo. É assim objetiva, bem selecionada, harmoniosa e forte”.
Também nos cinemas brasileiros, dois títulos do final da década de 1950, O grito, de Michelangelo Antonioni, e Sonhos de mulheres, de Ingmar Bergman, estreiam ao lado do novo filme de John Huston, A noite do iguana. Os três títulos compõem a programação da mostra Em 1964, em setembro, no cinema do IMS-RJ. A mostra Em 1964 foi iniciada em janeiro e vai até dezembro deste ano, com seleção do coordenador de cinema do IMS, José Carlos Avellar.
Programação de setembro da mostra Em 1964:
O grito (Il grido), de Michelangelo Antonioni, com Steve Cochran, Alida Valli, Betsy Blair, Gabriella Pallota. (Itália, 1957, 116‘)
Exibição: 23 de setembro, terça, 16h; 24 de setembro, quarta, 20h.
“O cenário cinzento e enlameado exerce papel eloquente nessa narrativa concentrada na trajetória de um homem sem horizontes, perdido em seu pequeno universo, limitado por uma paixão frustrada. O grito pode ser classificado como uma nova maneira de encarar o neorrealismo. Enquanto aquele movimento sempre procurou a ênfase no tema social, em problemas decorrentes da situação italiana no pós-guerra, Antonioni concentra sua atenção num problema aparentemente relacionado apenas com um indivíduo. O que na verdade o cineasta pretende dizer é que a incapacidade de nos sensibilizar com o que se passa em nosso redor nos levará à destruição. O isolamento equivale ao suicídio”. [Hélio Nascimento, Jornal do Comércio de Porto Alegre, julho de 1976]
Sonhos de mulheres (Kvinnodröm), de Ingmar Bergman, com Eva Dahlbeck, Harriet Andersson, Gunnar Björstrand, Ulf Palme (Suécia, 1955. 87’)
Exibição: 23 de setembro, terça, 18h; 24 de setembro, quarta, 18h.
Duas mulheres, uma editora de moda e uma jovem modelo em Gotemburgo para uma sessão de fotos. Suzanne, a editora, tenta encontrar-se com o amante Henrik. Doris, a modelo, conhece ao acaso um homem mais velho, Otto. Os sonhos românticos são interrompidos pelo aparecimento de duas outras mulheres, a esposa de Henrik e a filha de Otto. Décimo quinto filme do diretor, realizado pouco depois de Noites do circo (1953) e Uma lição de amor (1954) e antes de Sorrisos de uma noite de amor (1955), filmes em que, num tratamento cômico ou dramático, os personagens atravessam um ritual de humilhação e sofrimento como ponto de passagem para viver a vida.
A noite do iguana (The Night of the Iguana), de John Huston, com Richard Burton, Ava Gardner, Debora Kehr, Sue Lyon (EUA , 1964. 125‘)
Exibição: 23 de setembro, terça, 20h; 24 de setembro, quarta, 16h.
“Quando Hannah diz ao reverendo Shannon – após relatar uma experiência de amorosa – que nada que é humano me dá nojo, a não
ser a crueldade e a violência, a mensagem de compreensão e aceitação de Tennessee Williams, constante em toda a sua obra (A
única coisa que me choca é a crueldade desnecessária, diz um dos personagens de Suddenly Last Summer), perde-se ante a fragilidade das palavras que a cercam.
A noite do iguana salva-se por Tennessee Williams, pela fotografia de Gabriel Figueroa, pelas interpretações de Richard Burton, Deborah Kerr e Grayson Hall, pela beleza de Sue Lyon e, principalmente, pela presença dominadora de Ava Gardner. [Luiz Carlos Oliveira, Jornal do Brasil, setembro de 1964]