Os destaques da programação de cinema em abril de 1964 incluíram a reapresentação de Noites de circo, de Ingmar Bergman, e três estreias: Electra, a vingadora, de Michael Cacoyannis, Lawrence da Arábia, de David Lean, e Freud, além da alma, de John Huston.
Os três primeiros filmes serão exibidos como parte da programação da Mostra em 1964, que foi iniciada em janeiro e vai até dezembro deste ano, com seleção do coordenador de cinema do IMS, José Carlos Avellar.
Programação de abril da Mostra Em 1964:
Electra, a vingadora (Ilektra), de Michael Cacoyannis. (Grécia, 1962. 110‘)
Exibição: terça, 22 de abril, 15h | quinta, 24 de abril, 20h
No Correio da Manhã, um depoimento de Michael Cacoyannis sobre a filmagem de Electra, a vingadora (Ilektra): “Meu guia foi a Grécia, a paisagem grega, a tradição grega, o folclore grego, os únicos elos tangíveis com o passado. A tragédia grega não tem época. O maior desserviço que se pode prestar-lhe é tratá-la como uma espécie de reverência reservada aos mortos. Os que tentam apresentá-la dentro do quadro da convenção de sua época, tornam-se culpados desse desserviço. Não somente estão fadados ao fracasso na recriação da forma – a convicção histórica não pode pode sobreviver à conjetura além de certo ponto – mas também, e isso é mais importante, na realização da finalidade básica do drama grego que é mover-se. A fim de servir tanto ao autor original quanto a seu público, o diretor deve eliminar a distância entre eles. Sem perder o pé no século xx, ele deve tentar elevar o passado a um estado sempiterno do que o presente é parte viva”. No Jornal do Brasil, comentário de Claudio Mello e Souza: “Quem há de se esquecer do rosto, das olheiras, das lágrimas, do ódio e dos cabelos curtos de Irene Papas? Seu rosto, assim desenhado, há de passar para todas as antologias cinematográficas com a mesma assiduidade com que nela está gravado e reproduzido o rosto de Falconetti em seu suplício de Joana d’Arc. Não há outra saída, leitor: prepare-se para admirar, prepare-se para abrir a boca de tanta admiração, apronte-se para ser apresentado ao belo, para dizer-lhe muito prazer, para curvar-se diante dele com total submissão”.
Noites de circo (Gycklarnas afton), de Ingmar Bergman. (Suécia 1953. 93’)
Exibição: terça, 22 de abril, 17h | sexta, 25 de abril, 17h
Para o Diário Carioca, Noites de circo (Gycklarnas afton, 1953), de Ingmar Bergman, é “filme que cresce em forma e conteúdo com o passar do tempo”. Em seu retorno aos cinemas, “parece ganhar ainda mais força essa história amarga e desesperançada de um grupo de artistas de um pequeno circo que se apresenta em pequenas cidades na Suécia, uma das mais contundentes imagens de humilhação já mostradas no cinema: a do palhaço abraçado a sua mulher. Ela mergulhara nua no rio com soldados sem se dar conta do que fazia. Alertado, ele vai buscá-la, carrega a mulher nos braços de volta ao circo, nua, entre o riso debochado dos soldados. A imagem é especialmente amarga, mas não é a única cena de humilhação imposta aos personagens de Noites de circo. Bergman não poupa nenhum deles”.
Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia), de David Lean. (Inglaterra, 1963. 216‘)
Exibição: terça, 22 de abril, 19h
Em Última Hora, uma nota sobre Peter O‘Toole e a filmagem de Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia) de David Lean – as primeiras cenas foram rodadas na Jordânia, continuaram na Espanha e foram concluídas no Marrocos. “Lawrence, figura riquíssima, é retratada por Peter O‘Toole, ator até agora dedicado quase exclusivamente ao teatro e que na certa não foi escolhido pela semelhança com o verdadeiro Lawrence (queixudo, feio, baixo)”, anota Tati de Moraes. “A maior excelência cabe ao diretor David Lean, que conduz estupendamente as quase quatro horas de exibição que leva o filme, entremeando a narrativa com as mais belas cenas de deserto que já se viu numa tela – dunas cor de ouro, miragens de areia liquefeita, o horizonte perdido na visão do espectador, a grandeza solitária dos espaços imensos, reduzindo homens a pontos negros numa superfície interminável”. Em O Globo, Octavio Bonfim resume: “um brilhante espetáculo técnico, a que falta calor humano. A demasiada preocupação do realizador pelos aspectos exteriores superou, a nosso ver, o fascinante e estranho conteúdo humano do personagem principal. Será apreciado pelos que gostam das grandes aventuras e têm paciência para ver filmes longos”.