Em 27 de março, aconteceu no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro o evento Golpes de vista, com o professor de literatura brasileira da USP e crítico literário Augusto Massi. Nela, o professor traçou paralelos entre os romances O braço direito (1963), de Otto Lara Resende, e A paixão segundo G.H. (1964), de Clarice Lispector, tendo como pano de fundo o quadro politico de 1964. O Instituto Moreira Salles é detentor do acervo completo de Resende e de parte do acervo de Lispector.
Massi, que está cuidando da reedição da obra de Otto Lara Resende pela Companhia das Letras, fez uma reflexão sobre como a palavra golpe, questão importante nos dois livros, dialoga com o cenário político brasileiro da época. O desafio do palestrante residia em politizar histórias individuais de escritores cuja vocação literária não parecia política e que não tinham a pretensão de falar do golpe militar.
A ideia do golpe de vista, no entanto, é trabalhada como um momento de violência, de torção, de mudança de curso que a literatura tenta mimetizar. Em Clarice, por exemplo, ele surge em momentos em que os personagens observam um elemento comum de relance – uma barata, um cego mascando chiclete – e aquilo de repente parece mudar toda sua perspectiva de vida. Tanto em O braço direito quanto em A paixão segundo G.H., esse procedimento está entranhado desde as primeiras páginas e a palestra busca analisar como isso reflete a atmosfera de desassossego que o país passava no ano de lançamento dessas obras.
A palestra de Massi, que contou com apresentação de Paulo Roberto Pires, foi parte da programação de Em 1964, que ao longo do ano se dedica a discutir os 50 anos do golpe militar.
Assista aqui à integra do debate Golpes de vista: